domingo, 24 de novembro de 2013

Perguntas sem Respostas (parte II)


"é um retrato do Brasil de fato... não importa se é máquina ou humano, se não tem utilidade é depreciado..."
Dj Pastteur

Essa frase veio de um amigo, técnico e músico, que por muitas vezes debatemos sobre assuntos diversos, mas que por poucas vezes discutimos sobre política brasileira. Isso me mostrou que não estou com o pensamento tão defasado em relação a política, e que, mais pessoas enxergam da mesma maneira que eu a situação atual do Brasil: desrespeito.

Não tive a melhor infância do mundo. Claro, não cheguei a passar fome, e sempre tive o que vestir (apesar de não gostar da comida e a roupa quase sempre era doação dos primos mais velhos). Não tive o melhor pai do mundo: ele se tornava muito agressivo quando bebia. E como bebia. Cheguei a apanhar de cano na cabeça a ponto de ir no hospital dar ponto; chineladas nas costas a ponto de não conseguir mexer os braços por 2 dias; ser espancado porque furou o pneu da bicicleta, ou porque pedi para completar copo de suco durante o almoço. Tudo entre 1 e 10 anos. E não era por falta de dinheiro porque ele era dentista do Estado. Meus pais se separaram quando eu tinha 13 anos. Comecei a trabalhar muito cedo e era visto pelos coleguinhas da escola como um Extra Terrestre por trabalhar tão novo. Aprendi muitas coisas com isso, principalmente o valor do dinheiro. E o quanto eu ganho pouco. E que nada cai do céu, e se eu quiser algo terei que ralar muito para comprar. Outra coisa que aprendi trabalhando desde novo foi a ser curioso em relação às coisas: como funcionam, como são feitas, como posso fazer em casa, etc. Me formei no colegial (contra minha vontade: nunca gostei de estudar aquelas coisas chatas que jamais eu usaria na vida: conhecimentos tão profundos de português, coisas de física/química/matemática tão profundas, que ao meu ver era para engenheiros, etc) em escola pública. Nunca me vi trabalhando em empresa privada porque não gostava da instabilidade e da frase "você está demitido". Vi no mundo dos concursos a oportunidade que me aguardaria mais adiante. Dos 13 aos 24 anos trabalhei em diversos serviços: eletricista, estoque de papelaria, técnico de telefonia, vendi saco de lixo, técnico em eletrônica, instalador residencial, técnico em eletrotécnica, programador, e até barmam em casa noturna. Me formei técnico em Eletrotécnica, mais tarde me graduei (licenciatura) em História em 2008. Fiz curso de mergulho. Aprendi muito sobre fotografia. Aprendi tudo que pude sobre montanhismo. Tudo para tentar levantar uma grana e poder comprar minhas coisinhas (guitarra, bicicleta, moto, doces, minha casa, etc). Com 18 anos muita coisa mudou em minha vida, inclusive a correria triplicou e perdi contato com muitos amigos. Amadureci demais de lá para cá. Com 24 anos (2004) fui aprovado num concurso público municipal: inicialmente no setor de esportes; cinco anos depois no depto de TI (Tecnologia da Informação= informática); quatro anos depois na Defesa Civil. Sou perfeccionista e tento fazer sempre o melhor de mim.
Apesar de atualmente eu estar oficialmente na Defesa Civil (2013), fiz algumas participações especiais em 2011 e 2012. Participei de vários cursos e palestras. Aprendi um básico de nivelamento sobre os diversos assuntos abordados. Estive em contato com pessoas em situação social de extrema carência, pessoas sem a menor noção de higiene, analfabetas, que nasceram, cresceram nestas condições, e viverão ali por toda vida. Pessoas sem perspectiva de crescimento. Tentei ajudar, por muitas vezes além do que poderia, de todas as maneiras. Tentei instruir para programas do governo, assistência social, etc. Em vão.Vi e vivenciei casos em que me desdobrei para conseguir uma doação para uma senhora carente, consegui levar o fogão para ela, e, quando bati em sua porta para fazer a entrega, a vizinha deu o alarme "não faça isso, moço, dê para quem precisa. Essa aí vendeu a geladeira semana passada por vinte reau para comprar droga". Vi e vivenciei casos em que a pessoa não queria ser ajudada, não deixava por nada. Não queria aceitar uma casa do governo por preço de banana, preferindo continuar no meio do lixo e da contaminação. Em raros pude observar desejo de evolução. Na grande maioria a 'conformação' predominava.
Pronto, agora começa meu assunto.

Você deve estar se perguntando, mas que raio de introdução gigante é essa aí em cima? E eu respondo, estava explicando um mega-ultra-super resumo da minha vida, determinando meus conhecimentos
 para expor minha dúvida. Procurei por vinte anos uma justificativa que respondesse à altura minha vontade de sair do Brasil. Algo que fosse plausível para dar as pessoas que não se conformam de eu estar jogando a toalha e desistindo do "Melhor País do Mundo".
Quando digo isso a uma pessoa bem sucedida, que já tem tudo o que precisa e recebe um ótimo salário, essa pessoa fica indignada: 'onde já se viu?!?!? Você indo embora?!?!?! Não faça isso!' e por ai vai.
Quando digo isso a uma pessoa na mesma situação que eu, essa pessoa diz 'pensa direito, lá fora pode ser pior que aqui'.
E finalmente, quando digo isso a uma pessoa numa situação pior que a minha, diz 'nem pense, vá ser feliz longe desse inferno'.
Não sei o quanto cada pessoa sabe, conhece, estudou sobre, tem experiência sobre, já vivenciou sobre, outros lugares. Mas tenho minha própria idéia. Além do mais, não tenho medo de arriscar.
Além de muito curioso, sempre fui muito atencioso a tudo que me cercava. Sempre fui muito crítico, não aceitando determinadas regras e tentando melhorar outras. Pago meus impostos, respeito as leis, tento ser gentil com as pessoas. Oscilo entre "constrangido/inconformado/irritado/furioso" quando vejo pessoas (aparentemente de bem) quebrando leis. E não é por menos. Leis tão simples como o CTB (código de trânsito brasileiro) não conseguem seguir, quanto menos um código penal ou civil. Coitada, a constituição está lá, só de enfeite, nem 20% dela é seguida à risca no nosso país. Nem pelo governo, nem pela população. O trânsito, em especial, sempre me tira do sério: perdi 4 amigos por culpa de motoristas embriagados que dirigiam na direção contrária. Não me conformo com a quantidade de gente mal preparada dirigindo um carro ou uma moto hoje no Brasil. Particularmente, acredito que nem 10% da população está preparada para guiar um veículo! Um dos maiores prazeres da minha vida era viajar de moto. Poucas coisas para mim eram tão prazerosas. Sempre curtindo a paisagem, interagindo com ela, parando em lugares legais para registrar numa foto. Minha CNH data de 1998. De lá para cá esse meu prazer em dirigir na estrada foi diminuindo. O motivo você já deve saber: o número de péssimos motoristas cresceu absurdamente. Naquele tempo, poucos dirigiam acima da velocidade. Sempre mantinham uma distância segura do veículo que ia à frente. Poucos dirigiam sem o cinto de segurança. Poucos faziam conversão sem indicar usando a seta. Era seguro. Era prazeroso.
Hoje, qualquer passeio que faço na estrada é um desafio. De Jaú para Barra Bonita (26Km) é uma questão de vida ou morte: Imbecis dirigindo (carros ou caminhões) muito acima da velocidade andam grudados na traseira do veículo da frente. Se a velocidade máxima é de 90Km/h e você já está a 110Km/h, sempre tem um retardado grudado na sua traseira dando sinal de luz, fazendo pressão querendo te ultrapassar em local proibido. Quando, não muito difícil, estão bêbados, sem cinto, dirigindo de chinelo, com criança no banco da frente fora da cadeirinha, parece um "pacote completo", onde esses acéfalos conseguem a façanha de obter de 5 a 10 infrações de trânsito em uma única ação.
Faz 16 anos que observo o trânsito nas estradas e na cidade. E faz 16 anos que me pergunto o que está mudando? Porque todos estão ficando tão ruins? Porque tanta pressa? Porque tanto despreparo na direção?
Canalizando essa questão de leis e trânsito para nosso cotidiano nem precisamos ir tão longe para ver a mesma questão se repetindo: basta assistir uma semana de noticiários ou participar ativamente de alguma escola de seu bairro. As notícias estão lá, como sempre estiveram, mas sempre aumentando a frequência de acontecimentos e o nível da brutalidade.
Eu tenho uma resposta que justifica tudo isso. Justifica a violência nas escolas entre os alunos e entre os alunos e os professores. Justifica essa quantidade enorme de assassinatos que vemos todos os dias nos telejornais. Justifica esse monte de motorista ruim que temos hoje no nosso trânsito. Justifica até minha vontade de sair do Brasil assim que for possível. Minha justificativa tem uma única palavra: DESRESPEITO. Isso mesmo. A falta de respeito que deveria vir de dentro de casa dos filhos para com os pais; dos pais para com os filhos; dos filhos para com os professores, para com os mais velhos; dos motoristas para com os outros motoristas; do estado para com a população (assim como na foto desse post). É a mais pura falta de respeito com o próximo que justifica esse desabafo , quer dizer, esse texto longo e chato, quer dizer, esse post.

Mas ainda sobra uma pergunta que não sei responder:
O que gera (e como acabar com) esse desrespeito em todas as áreas?

Não sei responder essa. Se você souber, pelo amor de Deus, me explique.
abs a todos
Wil - jauradical


(dados da foto: celular Samsung i5500, 40mm, f/2.7, 1/340s, ISO 50, lotada de HDR falso para dar um ar de fantasia à realidade desta imagem)